
Registro inédito de orquídea amplia conhecimento sobre a flora do Paraná
Espécie endêmica da Mata Atlântica é registrada pela primeira vez no estado em pesquisa apoiada pelo Programa Biodiversidade Litoral do Paraná
Pesquisadores do Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais registraram pela primeira vez no estado do Paraná a orquídea Bulbophyllum campos-portoi Brade, uma espécie endêmica da Mata Atlântica que, até então, era conhecida apenas na Região Sudeste. O achado foi feito durante expedição de campo no Parque Nacional de Saint-Hilaire/Lange, Unidade de Conservação (UC) federal que abrange os municípios de Matinhos, Guaratuba, Morretes e Paranaguá, e foi descrito em artigo científico publicado na revista Acta Biológica Paranaense, da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
“O registro de uma nova ocorrência de espécie em um estado representa uma importante contribuição para a ciência e para o conhecimento da flora local. Com o novo registro no Paraná, sua área de distribuição geográfica é ampliada, um dos principais critérios utilizados na avaliação do risco de extinção de espécies. Outro fator considerado nessas avaliações é a ocorrência das espécies em UCs. Assim, cada novo dado sobre presença e distribuição auxilia diretamente na formulação de estratégias mais eficazes de manejo e conservação da biodiversidade”, explica o engenheiro florestal Daniel Zambiazzi Miller, que coordena a pesquisa.
A espécie foi encontrada em maio deste ano nas proximidades do Salto do Tigre, em Matinhos, a cerca de 120 metros de altitude. Segundo o artigo, a Bulbophyllum campos-portoi se destaca por possuir flores verdes e labelo castanho com pontuações púrpuras, características que permitem diferenciá-la de outras espécies do mesmo gênero, como B. glutinosum e B. atropurpureum.

O registro reforça o papel do Parque Nacional de Saint-Hilaire/Lange como área prioritária para a conservação da biodiversidade na Mata Atlântica. O gênero Bulbophyllum, ao qual pertence a espécie descoberta, é um dos mais diversos da família Orchidaceae, com mais de 2.000 espécies distribuídas em regiões tropicais. No Brasil, são conhecidas cerca de 60 espécies, sendo 17 registradas na região Sul. O artigo completo pode ser consultado em: https://revistas.ufpr.br/acta/article/view/100486
Projeto financiado pelo Biodiversidade Litoral do Paraná
A descoberta é resultado direto do projeto Estudos da Restauração: pesquisa, estruturação e planejamento, financiado pelo Programa Biodiversidade Litoral do Paraná (BLP) no âmbito da Chamada de Projetos 15/2024 – Linha Temática Manejo e Conservação, com investimento de R$ 749.481,00. O projeto tem como objetivo fortalecer as UCs e a cadeia da restauração ecológica no litoral do Paraná, fornecendo informações técnico-científicas que subsidiem ações de manejo e conservação de espécies arbóreas raras e ameaçadas.
Além do levantamento florístico, o projeto, que contempla o Parque Nacional Saint-Hilaire/Lange, o Parque Estadual do Palmito, a Estação Ecológica do Guaraguaçu, o Parque Estadual Rio da Onça e o Parque Estadual Pau Oco, desenvolve pesquisas sobre germinação e produção de mudas de espécies raras e ameaçadas de extinção, em parceria com o Laboratório de Sementes Florestais da UFPR.
“Esses estudos são fundamentais para preencher lacunas de conhecimento sobre técnicas de produção de mudas, uma limitação que frequentemente restringe o uso de determinadas espécies em projetos de restauração. O avanço nesse campo contribui para o aumento da diversidade utilizada na recomposição de ecossistemas e, consequentemente, para a melhoria da sua funcionalidade ecológica”, afirma Daniel.
O projeto também realiza pesquisas sobre frugivoria, processo pelo qual animais consomem frutos e, ao se deslocarem pela floresta, espalham as sementes, permitindo que novas plantas se estabeleçam. Nos ecossistemas tropicais, esse mecanismo é fundamental: mais de 80% das espécies vegetais dependem da ação da fauna para se reproduzir e ocupar novas áreas. Para aprofundar esse entendimento no litoral do Paraná, a equipe instalou armadilhas fotográficas nas UCs e fez observações diretas das plantas, registrando quais animais consomem quais frutos e como isso influencia a regeneração da Mata Atlântica.
“Diversas interações frugívoras foram registradas ao longo do projeto, sendo algumas inéditas, representando novas contribuições para a literatura científica. Ao final do projeto, será publicada uma lista completa das interações observadas, ampliando o conhecimento sobre os processos ecológicos da Mata Atlântica e subsidiando ações mais eficazes de restauração e conservação ambiental”, conclui Daniel.