
Projeto apoiado pelo BLP lança documentário sobre casas de farinha em Morretes
Documentário marca o encerramento do Conecta UC, projeto executado pelo Mater Natura que integrou comunidades tradicionais, agroecologia e conservação no litoral do Paraná
Na comunidade Mundo Novo Saquarema, em Morretes, uma antiga tradição resiste ao tempo: a produção artesanal de farinha. Essa prática, que atravessa gerações, é o tema do mini documentário As Últimas Casas de Farinha, lançado pelo Mater Natura no projeto Conecta UC: integrando unidades de conservação do Lagamar paranaense, financiado pelo Programa Biodiversidade Litoral do Paraná (BLP). A produção é da Olhar Nativo Filmes.
O filme conta a história da Casa de Farinha Avó Rose, uma das mais antigas da região. Depois de anos desativada, a casa foi restaurada em 2023 graças ao esforço de moradoras e moradores da comunidade, com apoio de iniciativas locais como a Rede PPPEA Guaratuba, o Sítios Brigitte, a APRUMUS e a Colipa – Cooperativa Agroecológica. “A Casa de Farinha Vó Rose está sendo transformada em um importante espaço de memória, que pode proporcionar uma experiência incrível de turismo rural sustentável na região”, destaca Renata Garrett Padilha, da equipe do Conecta UC.
Moradores mostram o passo a passo da produção artesanal da farinha, desde o cultivo da mandioca até a torra final. Uma fornada pode levar até quatro horas para ficar pronta e o trabalho acontece em turnos para que o fogo não apague e o ritmo não pare. A farinha de Morretes é descrita como alimento essencial do dia a dia, presente em todas as refeições. “A farinha não pode faltar no prato. Aqui a gente come todo dia”, afirma uma das entrevistadas.
O filme também registra o desaparecimento gradual das casas de farinha na região, com o fechamento dos antigos engenhos e o afastamento das novas gerações. Apesar das dificuldades, a farinha segue movimentando a comunidade. O documentário reforça a importância de valorizar práticas tradicionais como essa, que articulam saber local, segurança alimentar e identidade cultural.
Comunidades tradicionais e Unidades de Conservação
Selecionado na chamada 13/2023, o projeto Conecta UC foi executado entre abril de 2024 e julho de 2025 com a proposta de promover a integração de Unidades de Conservação (UCs) e comunidades tradicionais da região sul do litoral do Paraná. A iniciativa atuou em áreas como a APA de Guaratuba, o Parque Nacional Guaricana, o PARNA Saint-Hilaire/Lange, o Parque Estadual do Palmito, a Estação Ecológica do Guaraguaçu, o Parque Estadual do Rio da Onça e o Parque Estadual Boguaçu. “A principal motivação foi conectar a conservação das UCs com o ecodesenvolvimento local, para que caminhem juntos, fortalecendo a gestão territorial integrada, iniciando um diálogo entre as UCs e as comunidades e povos tradicionais do litoral paranaense”, afirma Renata Garrett Padilha, da equipe do Conecta UC.
Foram mapeadas 43 comunidades tradicionais, incluindo caiçaras, indígenas e quilombolas, e realizadas 14 oficinas participativas em 27 dessas comunidades. Todo esse processo resultou no documento Ocupação e Uso do Território das Populações Tradicionais e seus Modos de Vida, validado com as lideranças e devolvido às comunidades. “O conhecimento tradicional e a cultura local precisam ser valorizados, pois nos ensinam uma intrínseca conexão histórica e cultural com o ambiente natural. O sistema produtivo dessas comunidades, como a agricultura familiar e a agroecologia, caminham juntos em prol da manutenção da biodiversidade local”, detalha Renata.

O projeto também promoveu um amplo mapeamento da produção agroecológica local, com foco em práticas sustentáveis e potencial de restauração. Foram identificados 20 produtores orgânicos com atuação nas regiões de Morretes e Castelhanos, além de 331 pontos de atividade agropecuária, com predominância de banana, policultura e criação animal.
Mapa para orientar ações
Outro resultado expressivo do Conecta UC foi a elaboração de um Mapa com áreas prioritárias para restauração, que utilizou dados sobre uso do solo, sobreposição com Áreas de Preservação Permanente (APP) e Reservas Legais.

Um relatório final sobre o projeto foi produzido com contribuições práticas, estudos de caso, dados e informações que podem ser usados para fortalecer essas cadeias produtivas, abrindo portas do mercado local e gerando uma melhora na renda dessas comunidades. “Ele dá voz às comunidades tradicionais, além de contemplar diretamente a implementação do Projeto Político-Pedagógico mediado pela Educação Ambiental do Território da APA de Guaratuba (PPPEA Guaratuba), que é um dos principais instrumentos de gestão territorial das UCs, fortalecendo o protagonismo das comunidades na gestão participativa do território”, detalha Renata.
Com a conclusão do Conecta UC, o Programa Biodiversidade Litoral do Paraná amplia a base de dados e conhecimentos sobre o território, fortalecendo ações de restauração e conservação alinhadas à realidade das comunidades locais. Os resultados do projeto servirão de referência para novas iniciativas voltadas à gestão integrada das Unidades de Conservação e à transição agroecológica no litoral do estado.