
GeoLitoral integra dados e formação para qualificar a gestão ambiental no litoral paranaense
Com investimento de R$ 1,3 milhão do Biodiversidade Litoral do Paraná, projeto reúne soluções geoespaciais, mapeamento participativo e capacitação técnica para apoiar a gestão das Unidades de Conservação
A gestão das Unidades de Conservação Federais no litoral do Paraná está ganhando reforço com a chegada do projeto GeoLitoral, que une ferramentas geoespaciais, mapeamento participativo e capacitação técnica. Com investimento de R$ 1,3 milhão do Biodiversidade Litoral do Paraná (BLP), a iniciativa busca ampliar a base de informações ambientais e qualificar o trabalho de monitoramento e planejamento na região. O projeto é executado pelo Laboratório de Geoprocessamento e Estudos Ambientais (Lageamb) e pela Funespar, com correalização do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e da Agência Escola da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
“O Lageamb apoia o trabalho do ICMBio há alguns anos. Essa parceria está institucionalizada no Acordo de Cooperação Técnica que segue em vigência até hoje. Traz todo o aporte de pesquisa na área das geociências de maneira aplicada às necessidades do órgão, propósito de onde surge o GeoLitoral”, conta Laura Krama, geógrafa que integra a equipe do projeto. A partir dessa relação consolidada, o ICMBio apresentou uma série de demandas de tecnologias e formações ao laboratório. “Com isso, foram realizadas mais de dez reuniões entre as duas instituições para levantar possíveis ferramentas e cursos que pudessem fortalecer o corpo técnico e a ação do Instituto. Assim, foi elaborado o projeto GeoLitoral, com diversas frentes e objetivos, visando atender às necessidades e potencializar a eficiência na gestão do território”.
Infraestrutura geoespacial e novas ferramentas
O GeoLitoral está estruturado em três grandes frentes. A primeira envolve o desenvolvimento de soluções geoespaciais, promovendo a integração entre sistemas e bases de dados que antes operavam de forma isolada. Uma das principais entregas é a construção de uma Infraestrutura de Dados Espaciais (IDE) com mais de 2 mil camadas de informação georreferenciada, reunindo dados ambientais, cartográficos e territoriais em uma única plataforma acessível e padronizada.
“Hoje o ICMBio, o IBAMA, o Instituto Água e Terra (IAT) e o Batalhão de Polícia Ambiental (BPamb) atuam com fiscalização no litoral do Paraná, mas cada um tem o seu sistema próprio de autos de infração. Estamos estudando esses sistemas para identificar possibilidades tecnológicas de integrá-los”, relata Eduardo Vedor, geógrafo e coordenador do projeto. Ele acrescenta que ferramentas como o MapBiomas não conseguem captar os desmatamentos seletivos típicos da região. “Estamos testando métodos de identificação de supressões pontuais dentro do bioma Mata Atlântica”.
Diagnóstico participativo na Ilha Rasa
O segundo eixo do GeoLitoral concentra-se no mapeamento ambiental da Ilha Rasa, em Guaraqueçaba, onde vivem quatro comunidades tradicionais caiçaras. A metodologia foi construída com base na escuta ativa dos moradores, por meio de assembleias e oficinas realizadas na própria ilha. Durante os encontros, as comunidades compartilharam conhecimentos sobre o uso do território, incluindo caminhos, áreas de pesca, moradias e espaços coletivos.

Segundo Eduardo, a iniciativa responde a uma demanda do ICMBio diante dos conflitos existentes na ilha e da ausência de orientação técnica. “A gente pretende fazer o mapeamento junto com as comunidades para entender não só a localização das residências, mas as demandas de uso que essas comunidades têm, para pensarmos estratégias de uma ocupação mais ordenada”.
Formação técnica para equipes do ICMBio
O terceiro eixo é voltado à qualificação dos servidores do ICMBio que atuam nas Unidades de Conservação do litoral paranaense. Desde abril de 2025, o projeto vem promovendo ciclos de capacitação com temas definidos em conjunto com o órgão, como uso de drones para monitoramento ambiental, cartografia básica aplicada e práticas com o QField — aplicativo para coleta de dados geoespaciais em campo.
As três frentes do projeto se articulam entre si. “As ferramentas geoespaciais aportam tecnologia de qualidade, o mapeamento participativo permite o diálogo e a escuta dos moradores tradicionais que também fazem parte do território e as capacitações trazem a transferência metodológica, com intuito de qualificar os profissionais para que o uso das geotecnologias seja o mais eficiente possível no dia a dia de trabalho”.
Integração e fortalecimento do ecossistema de dados
De acordo com Eduardo, o LAGEAMB atua há cerca de dez anos na padronização e integração de dados geoespaciais no litoral do Paraná, mas sempre em etapas, com esforços pontuais dentro de projetos específicos. O GeoLitoral é a primeira oportunidade em que o laboratório tem um recurso exclusivo voltado à integração desses dados. Isso permitiu formar uma equipe de bolsistas dedicada exclusivamente a essa frente, ampliando a capacidade técnica e a continuidade do trabalho. “A nossa meta, nesses dois anos de projeto, é sistematizar os dados que já organizamos para o litoral do Paraná e, ao mesmo tempo, ampliar esse trabalho para o litoral sul e trazer outras instituições para a mesma metodologia de armazenamento, padronização de nomenclatura e disponibilização de informações”.
Laura complementa, reforçando o papel do BLP. “O programa Biodiversidade Litoral do Paraná tem um papel fundamental, pois cria um ecossistema de dados ao incentivar diversos projetos a gerar conhecimento sobre o nosso litoral”, diz. “Nosso projeto tem a missão específica de integrar e dar sentido a todo esse vasto conjunto de informações. Colocando várias camadas de informação em um mesmo mapa e vários mapas nas mesas de gestores e pesquisadores do território, fomentando novas ações e projetos de maneira assertiva”, conclui.
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Imagens: Divulgação Lageamb/UFPR